quinta-feira, outubro 09, 2008

Blind(sad)ness


Tarefa difícil esta. Confesso que estava com medo!Cobardia, talvez! Cheguei mesmo a evitar chegar a este ponto. Recusei vários convites. Adiei. Adiei! Até porque o peso da responsabilidade tornara-se já um fardo. Até que ganhei coragem… Li o livro há demasiado tempo, que pensava até que nem me lembrava de cada página. De cada palavra que me esventrara o romantismo. Assim: "pah"- choque. Até que pensei: vá este homem é genial! Mas, enfim! Algum dia teria de ser. Li o livro! Entrevistei o realizador… Quase que fiz parte do processo de viver a agonia da montagem! Tantas voltas à cabeça que aquele outro homem deu para agradar o autor do livro. Ele até chorou! O que significava aquilo? Não queria desiludir. Lidamos mal com a desilusão. A crítica poderia (é ?) ser visceral. Mortificadora! Mas, sim! Tive de tomar coragem e ir ver “Blindness” de Fernando Meirelles, que estreou há demasiado tempo no Brasil para me lamentar que, afinal, sou das únicas que ainda não foi ver! Ontem lá empurrei a minha carcaça. Comprei bilhete e "pow"! Lá estava eu e mais um casal a assistir ao filme! A sala ecoava de vazio. Sinal vermelho. Verde. E, depois, assim de repente fiquei cega… Não pensei que me atirasse assim para o abismo do livro novamente, fazendo recordar cada pedaço que tinha ficado na minha cegueira. Ou lucidez, seja lá o que isso significa. Depois pensei: este homem é genial. Quero lá saber de quem não gosta. A verdade não é para todos. Não estamos preparados! Muito menos as metáforas. Que homem se lembraria do verniz como sinal de luxúria e degredo humano? Ou de homicídio como recuperação da dignidade? Ou de violação como sinónimo de regeneração? Ou de cegueira como diálogo político? Ou de incapacidade de ver como uma possibilidade para reaprender a ver? Pensei de novo: é, sim. O "meu" Saramago é genial. Ele não me conhece, mas é como se já estivesse demasiado aqui. Demasiado mundo. Demasido vida. Ou demasiado inconveniente para que o aceitemos.
Mergulhei em queda livre. Ninguém estava lá para me segurar. Mas a cegueira agarrou-me até ao fim! E este mundo - que é meu - estava lá. FIM! Saí para o mundo. Percebi que o filme não tinha acabado. Tinha apenas começado, numa espécie de dejá vu revisitado!

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