terça-feira, setembro 07, 2010

Para que serve o horário eleitoral: os tais (medíocres) 15m de fama

A mulher do padre fala por ele. “Política abençoada, começa em casa. Por isso eu, Mara Maravilha, conto com o seu voto para o meu esposo servo de deus”. Diz que o marido, puro evangélico, não bebe, não fuma, é um bom homem. Ele não fala, sorri, só sorri, e mais não se diz, para manter a compostura, embora, lá no fundo, já se a tenha perdido. Afinal, por trás de um grande homem, sabemos, está uma grande mulher. E por detrás de uma grande mulher, quanto mais não seja a avaliar pelo tamanho do silicone peitoral da miúda pode, também, estar uma pêra. Isso mesmo, leram bem: uma pêra. (E não nos estamos a referir ao formato da mama: isto é sério, muito sério). “Sou a mulher Pêra. 1911 para deputada Federal”. Outra colheita.

E como a política precisa de fruta, de muita fruta, já não bastavam os “laranjas” da corrupção no senado (perguntem ao Renan Calheiros do PMDB), a Pêra, convenhamos, pode ser um bom partido, até porque, é a produção frutífera com menos expressão no Brasil. Precisa ser incentivada, portanto. Só que em matéria de fruta a coisa engrandece, fica mais dura e chega a ter pevides: a "Mulher Melão" é candidata a deputada estadual no Rio de Janeiro. O silicone foi generoso. O programa eleitoral nem por isso: se ele existisse. Há ainda a Mulher Melancia, mas era fruta a mais. Não se candidatou.

Menos doce e sexy, Luciana Costa parece um bulldog a rosnar palavras, enraivecida : “combato drogas e pe-dó-fi-li-a, Paz na Família e quem me ensinou foi o Éneas; Deputada Federal, 2252”. Acho que aqui levamos um susto, dos grandes, não percebemos se com toda esta agressividade ela nos quer dar um raspanete (onde raio está o comando da TV para mudarmos de canal?). E o Éneias, meus caros, é um senhor de barba displicente (juízo meu), com óculos fundo de garrafa, que abana o "corpixo" para a esquerda-e-para-a-direita sempre que repete o número eleitoral seguido de um objectivo: “1956 é trabalho”, e por aí vai. Mas o melhor da paródia (e olhem que isto é muito a sério) é o “Tiririca, pior que tá não fica”. A coisa aqui fica preta, ou melhor amarela, pois o sorriso inicial que se esboça ao ver aquele homem (?) vestido de palhaço (se não é, parece: outro juízo meu) a repetir um-pior-que-tá-não-fica é matizado com as nuances da gema de ovo.

A coisa piora aqui, enquanto abana o cabelito loiro: “Sou candidato a deputado federal. E o que faz um deputador federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto”. Não sabemos bem, se é caso para rir, ou chorar. Talvez seja o caso para ele se aconselhar com Ronaldo Esper que quer “agulhar os políticos para mudar Brasília” Vamos lá: "rewind" no vídeo. Enquanto ele diz “a-gu-lhar" levanta as mãozinhas em forma de garra como se fizesse um show de dragqueen. (Falta o “rowwww! Ficaríamos mais felizes com o rowwww felino")” E não percebemos muito bem onde ele quer chegar com aqueles óculos de sol de armação bordô e um duvidoso fato castanho, ornado com uma não menos dúbia gravata-puída. Será ele fã do Crepúsculo? Os vampiros também anda aqui?

Andam, sempre andam de outra forma. Numa forma mais Zeca Afonso. E a política brasileira também é isto: as figuras da comédia (amadora) que falam muito a sério, enquanto usam o horário nobre para brincar ao sem-noção. Gozar com a nossa cara. Se isto é democracia, percebemos: é um perverso sistema que permite que gozem com a minha inteligência. E eu nem vou votar. No fundo, esta velada falência democrática, é-o o ano todo, de outra forma, com mais retórica e gente mais bem vestida. 


Há umas semanas, o Estadão trazia a seguinte banda-desenhada: um casal em pé, especado em frente à TV: lia-se as palavras de um político que prometia roubar, lixar-lhes a vida, aumentar a corrupção e os impostos. A lista era mais completa. No final, o casal vai embora e diz: “Vou votar nele, ao menos ele não mente.” 

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