sábado, janeiro 22, 2011

Jeitinho brasileiro (1)

  • Se a gente pegar um táxi até o bar, fica mais fácil. A gente sai da Lapa, pega o Aterro, e antes da entrada da Urca é clube.
    -Beleza, vamo!
    Saltam para a rua, muvuca de começo de festa, caipirinhas rodam nas mãos, cachorros-quentes; carros amarelos à espera de aquecer o banco e rechear a bolsa.
    -Amigão, a gente vai seguir para o clube.


    Bandeirada a $ 4, 50. Quatro num carro. Conversas paralelas, calor, aragem. Saída da Lapa e pé na tábua para o clube. Festa do amigo-do-amigo-do-amigo, bem bacana, som maneiro, porque o DJ é “bem legal”, está na moda, numa espécie de “revival” de anos 80 e 90. É: na moda estão as décadas de 80 e 90 do século XX. Penteados, legging, blusas compridas axadrezadas, vermelhos e azuis-vivos. Maquilhagem garrida. Beleza. Com entrada a 20 real.


    -Vocês vão lá na Pizzaria Guanabara?
    -Que nada moço! Na Baía Guanabara, tá ligado? É, você tá com fome para querer ir na Pizzaria Guanabara! (risos alarves)
    -Caraca! Sabe que é verdade, mesmo! Não como faz tempo e ainda falta para terminar o expediente.-
    - Olha só, tenho aqui uma paçoquinha, mas é diet: aceita?
    -Com a fome que eu tô, pode ser qualquer coisa. Tem?


    Um minuto depois da saída da Lapa, da fome do taxista, das dissertações vagas e diáfanas o taxímetro estava quase nos 15 reais. Não pode ser. Olhei. Fiz sinal para trás (tenho o hábito de me sentar do lado do motorista, quando há gente para aquecer os bancos de trás: digamos que é uma espécie de autismo solidário, esse de meter conversa taxistas  para ficar ligada no movimento – se fizessem um estudo para fins jornalísticos iríamos concluir que, depois dos donos de café, e das senhoras do bairro, os taxistas são as melhores fontes de informação). Flashback: Olhei para os três atrás e falei.


    -Cara, seu taxímetro tá louco. Passou rápido para os 15 reais. A gente nem sequer chegou no Aterro. E não costuma pagar mais do que 20 reais até à Baía de Guanabara. Por essa lógica, vamos chegar nos 40 reais para corrida final. Seu taxímetro tá zoado e você vai ter que resolver. A gente não vai pagar isso tudo! Nem a pau!
    -Ih, sério? É mesmo. Caraca! Será que deu um “pau” qualquer na máquina? É que esse táxi é de um primo meu. Eu faço uns bicos de vez em quando, e esse final de semana foi minha vez. E pior é que só segunda-feira é que dá para resolver. E eu não posso ficar o tempo todo sem trabalhar. Será que se eu desligar ele volta a funcionar?
    -Amigão, não engana não. A gente sabe como funciona. A galera dá uma zoada no circuito do taxímetro e, ou quando você acelera, aciona o mecanismo; ou você tem um negócio no volante para accionar ele. Cara, tem de ficar ligado. A gente pode denunciar você.
    -Que nada, cara. Viatura não é minha. É a primeira vez que isso está acontecendo. Eu nem sei do que você tá falando.


    30 reais a piscar certos no taxímetro e os dígitos a rodarem acelerados no painel.


    -Cara, vai ter de fazer desconto nessa máquina aí e pagar o preço justo. Te damos 20 reais. Tá ligado?
    -Beleza. Desculpa aí. Não tô ligado no negócio. Vai ver que eu queria ir mesmo era nesse tal de Antiquarus. Coisa cara. Coisa de português!


    Fim de linha. Fim de rua.

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