quinta-feira, dezembro 15, 2011

A pele da cultura

Temos tantas extensões de nós, por aí, que até nos tornamos imortais. Uma espécie de deuses do além, num Olimpo de fantasmas, espectros virtuais, que deixam uma sensação estranha aqui dentro, quando nós vivos vemos os mortos ali plasmados nesse mundo twilight zone que é a internet.

Já pensei: quando eu morrer, o blogue e o meu perfil do Facebook ficarão como rasto do que fui, nos últimos seis anos, pelo menos. Deixarei, portanto, uma poeira no planeta internético (é sempre bom inventar palavras a ver se pegam e accionam os motores de busca para aqui), que passará a ser um lixo que não se pode reciclar. E isso porque os CEO's da internet ainda não têm o poder de apagar a lixeira. Aliás eles têm mais o que fazer. Enquanto estão vivos há-de sempre ser melhor contar os zeros da conta bancária.

E questiono-me: em que buraco quântico se aloja tanta coisa nesta internet? 

Acho que a primeira vez que pensei nisto, foi quando me apareceu a fotografia do Carlos Pinto Coelho, no canto superior direito do Facebook, horas depois de ele ter falecido, ou partido para outra galáxia. Ou seja, um elemento-perfil que ele criou numa rede social, ganhara vida própria, e ainda aparecia como "sugestão de amizade", quando ele já não estava entre nós. Em rigor ele era, ainda, o dono desse perfil a que mais ninguém teria acesso. Aquela página ficará eternamente como sugestão, enquanto os reis da monarquia Facebook não inventarem um mecanismo de denúncia: remover amizade porque esta pessoa morreu.

Em Setembro, a minha amiga A. contou-me, a propósito, uma história algo macabra. O homem que a recebera em Nova-Iorque da primeira vez que lá foi, tinha-se suicidado.

-"Foi uma sensação estranha saber que a pessoa que eu conhecera e que me ensinara a andar de bicicleta morrera, enquanto continuava viva no perfil do Facebook".

A. soube que ele se suicidara por causa das mensagens no mural dele: "X por que fizeste isso?"...etc. Os amigos continuavam a escrever como se ele estivesse vivo. Pelo que sei, ele ainda lá está com mural, com menos amigos, pois com o tempo, esses, vão-se despedindo, removendo a amizade. 

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